Vogue Itália decidiu falar de um tema espinhoso que critica a própria indústria da moda: as oficinas de costura espalhadas pelo mundo que escravizam seus funcionários.
O tema não é novidade, mas o problema parece estar muito londe de chegar ao fim. Todo dia a gente fica careca de ver notícias sobre o assunto sendo divulgadas.
São pedidos de socorro que chegam em etiquetas, são reality shows
que tentam mostrar a realidade dessas oficinas pra quem não faz nem ideia do que se passa ali dentro, são operações relatadas nos jornais que conseguem resgatar pessoas que trabalham em condições desumanas.
Sob o título de “The Heart of The Machine”, o editorial fotografado por Steven Meisel traz fotos bem escurecidas e cheias de sombras, tirando qualquer tipo de emoção trazida pelas cores, o que dá ainda mais ênfase a seriedade e ao clima pesado do ensaio.
As fotos enfatizam as péssimas condições do local de trabalho, o serviço repetititivo, a exaustão das trabalhadoras e a pouca comida sendo ingerida às pressas. Uma realidade dura, suja e assustadora.
Dá pra notar que houve um cuidado muito grande, tanto por parte do fotógrafo quanto por
parte de quem fez a produção do editorial, em mostrar que apesar de ser uma
“sessão de fotos de moda”, o tema mostrado foi tratado com seriedade.
As imagens não soam pejorativas, não querem transformar o problema em algo glamourizado ou simplesmente criar polêmica em cima do tema.
Pra mim, soa uma discussão séria, uma forma encontrada pela revista e pelo fotógrafo de fazer uma crítica social da forma como eles podem e através do veículo que estão representando.
Se a moda caminha pra frente e representa o novo, nada mais óbvio do que ela servir como um reflexo do que acontece no mundo. Do que há de melhor e pior, do que há de mais belo e de mais sujo.
Que ela seja, portanto, mais crítica em relação a sociedade que a usa e muito menos do que usa a sociedade.
The Heart of The Machine – Vogue Itália (fevereiro de 2015)
Fotógrafo: Steven Meisel